Introdução de alimentos sólidos - por Dr.ª Mónica Pina

A introdução de alimentos para lá do leite materno faz-se idealmente quando o bebé está pronto para tal mudança.

Nem todos os bebés estão prontos com a mesma idade. Alguns, poucos, mostram esses sinais por volta dos 4 meses, a maioria por volta dos 6 meses, sendo que alguns o fazem mais tarde, até cerca dos 8 meses. Raramente uma criança não está pronta para comer nessa idade.

As recomendações falam de 6 meses porque, por essa altura, as reservas de ferro acumuladas durante a gravidez e parto começa a chegar ao fim. O leite materno tem uma quantidade de ferro pequena, que por outro lado é altamente absorvível pelo bebé... Só que não chega. O bebé é um ser em crescimento, com necessidade de bastante ferro para o seu desenvolvimento.

Como bem sabem as mães que já passaram por isso, os bebés mostram que estão prontos para comer através dos seguintes comportamentos:

- quando metem qualquer coisa na boca, já não põe a língua para fora (ou seja, perdem o reflexo de protrusão da língua, um reflexo de protecção das vias aéreas).

- sentam-se bem direitos sem ajuda.

- mostram interesse pela comida dos pais ou irmãos e já fizeram o clássico "furto de comida da mesa", que é tirarem qualquer coisa que está no prato ou na mão dos pais e levarem à boca.

Quando estes 3 comportamentos estão presentes, o bebé mostra aos pais que quer comer. E começa uma aventura de descoberta de sabores e texturas. É bom proteger o chão por baixo da cadeira da criança e esperar umas manchas aqui e ali. Faz parte do processo de descoberta, até porque para as crianças pequenas não há diferença entre explorar, brincar e comer.

Podem pôr uma colher na mão do vosso bebés, ou simplesmente deixá-lo usar as mãos, e permitir que explore e coma sozinho. Não há vantagens especiais em dar de comer à cirança, qualquer que seja a idade. Obviamente, aqui vale o bom-senso e os gostos pessoais, como em qualquer outra situação.

Para quem amamenta, pode ser importante começar este processo dando de mamar antes de oferecer comida. Várias mães referem, ao darem antes de mamar ao bebé, que a aceitação de alimentos novos e da própria comida é maior. Afinal é ainda uma introdução, um início, com o tempo a criança irá comer cada vez mais e mais vezes.

Quanto às quantidades, é bom não ter expectativas. Há bebés que comem um prato de sopa logo desde o princípio, mas a grande maioria contenta-se com pequenas quantidades. Para se tranquilizarem, fechem a mão do vosso bebé em punho. O estômago dele tem esse tamanho. Não cabe lá assim tanta comida, não é?

Que alimentos escolher?

Vejamos as recomendações da American Academy of Pediatrics, que me parecem muito sentatas:

1.Não há provas suficientes de que limitar a dieta da mãe durante a gravidez e a amamentação diminua o riscos de alergias: comam o que vos apetece.

2. Há provas que amamentar exclusivamente pelo menos 4 meses os filhos de pais alérgicos diminui o risco de dermatite atópica (infelizmente os estudos com 6 meses de exclusividade são poucos...).

3. Amamentar exclusivamente pelo menos 3 meses reduz um pouco o risco de asma, mas não nos filhos de pais alérgicos ou asmáticos. Desconhece-se qual o impacto se a duração da exclusividade fôr superior a 3 meses.

4. Não há evidência de que atrasar a introdução de alimentos suspeitos (leite, peixe, ovos, avelãs, etc) para além dos 4-6 meses reduza o risco de alergias a este alimentos em pessoas predispostas. Para os não-predispostos então, não há qualquer problema.

5- Há provas minimas, quase inexistentes, do benefício dos leites especiais hipoalérgicos, por isso é sensato não os utilizar, já que são extremamente caros. O leite de soja não apresenta qualquer vantagem em relação ao leite artifical "corrente".

6- É importante amamentar quando se introduz o glúten, mantendo a amamentação durante pelo menos 2 meses. Assim reduz-se francamente o risco de intolerância ao glúten.

Portanto, utilizem os ingredientes para as refeições familiares e reduzam-nos a uma consistência que o vosso bebé consiga gerir. Evitem o sal e o açucar, que são totalmente desnecessários.

Aproveitando este momento de descoberta, podem-se introduzir hábitos mais saudáveis na família. Procurem variar os alimentos, evitar alimentos pré-confecionados porque quanto menos manipulação há, mais nutritivo se mantém o alimento.

Uma opção pode ser a de fazer as papas em casa. Cozer arroz, ou lentilhas, ou farinha de milho é relativamente simples, rápido, e seguramente mais nutritivo do que usar uma farinha alterada de forma a ser solúvel, somo são as das papas de bebé.

No caso de quererem misturar leite na papa, como é tradicional mas não obrigatório fazer-se, pode usar-se leite materno expresso ou, para as mães que não amamentam, leite artificial.

Uma última observação: respeitem os tempos e os gostos dos vossos bebés. Ofereçam comida saudável, mas deixem-no escolher a quantidade e mostrar as suas preferências.

Se se sentirem angustiadas ao seguirem esta sugestão, conversem com o pai, com amigos, desabafem, mas não forcem a criança a comer. A saciedade é um processo fisiológico e endócrino que pode ser alterado por esta prática muito difundida. Numa sociedade a braços com uma epidemia de obesidade e restante doenças associadas, temos um papel importante em evitar que os nossos filhos percam as suas capacidades fisiológicas de auto-regulação.

Boa aventura!

Mónica Pina
Médica, Consultora de Lactação, Moderadora da La Leche League

Que posso fazer para ter mais leite? - Mi nino no me come

E porque raio deseja você ter mais leite? Está a pensar abrir uma loja?

A preocupação das mães relativamente à suficiência do leite é muito antiga: há séculos atrás, quando toda a gente dava de mamar, já havia virgens e santos especializados em tornar o leite bom, e ervas e poções com muita reputação.

Talvez este medo venha da ignorância. As pessoas acreditavam que a quantidade do leite dependia da mãe: havia mães com muito leite e outras com pouco leite; mães com bom leite e outras com mau leite.

No nosso mundo acelerado há cada vez mais mulheres com “mau leite”, mas hoje sabemos que não é por culpa das mães. A quantidade de leite não depende da mãe, mas sim do filho. Há filhos que mamam pouco, e a quantidade de leite será sempre, exactamente, a que a criança mama.

Exactamente? Sim. A produção de leite está regulada, minuto a minuto, pela quantidade que o seu filho mamou na mamada anterior. Se o bebé estava com muita fome e com pressa de chegar ao fim, o leite se fabricará a grande velocidade. Se, no entanto, a criatura estava calma e deixou o peito a meio, o leite será produzido lentamente. Isto foi demonstrado através de medições do aumento do volume do peito entre mamada e mamada.

Para que uma mãe tenha pouco leite, ou seja, menos do que o seu filho precisa, é preciso que aconteça uma das seguintes situações:

1. Que o bebé não mame o suficiente (por exemplo, se está doente, ou se lhe encheram a barriga de água, soro glicosado ou ervas, ou se lhe deram o biberão).

2. Que o bebé mame, mas mal (por exemplo, se coloca mal a língua porque se habituou a chuchas e biberões, ou se está fraco por ter perdido muito peso, ou se tem um problema neurológico).

3. Que não deixem o bebé mamar, porque tentam dar-lhe segundo um horário, ou entretê-lo com a chucha quando ele pede a mama.

Fora estes três casos (e alguma doença rara, das que há uma entre vários milhares), todas as mulheres terão exactamente o leite de que seu filho precisa.

Portanto, quando perguntam “que faço para ter mais leite”, o primeiro é comprovar se realmente há um problema (se o bebé está a perder peso, ou a ganhar muito pouco). Deverá tratar-se de algum dos três casos anteriores ou de uma mistura dos três, e terá de ser remediado. Se o bebé está doente, averiguar o que tem e tratá-lo. Se está tão fraco que não consegue mamar, tirar o leite e dar-lhe com outro método. Se estavam a dar água ou chupeta, deixem de dar. Se tomava biberões, tirá-los também (de repente se era pouco, ou gradualmente em uns dias se eram muitos). Se não mamava com boa postura, colocá-lo bem para que volte a aprender. Poderá encontrar ajuda muito útil nos grupos de apoio, como Mamar ao Peito, Liga La Leche, ou SOS Amamentação. Há dezenas de grupos de apoio à amamentação em Portugal, pode encontrar uma lista actualizada em: http://mamaraopeito.webnode.com/grupos-de-apoio/ (Nota da tradutora: a última frase foi alterada, para adaptar-se a Portugal)

Mas também há muitíssimos casos em que a mãe acredita, por algum motivo, que não tem leite suficiente, o que está errado. Alguns dos falsos “sintomas” da falta de leite podem ser:

- O bebé chora.

- O bebé não chora.

- O bebé pede antes das três horas.

- O bebé pede depois das três horas.

- O bebé demora mais de dez minutos a mamar.

- O bebé mama em cinco minutos e não quer mais.

- O bebé mama à noite.

- O bebé não mama à noite.

- A minha mãe não tinha leite.

- As mamas estão muito cheias.

- As mamas estão muito vazias.

- Tenho as mamas muito pequenas.

- Tenho as mamas muito grandes. [por uma questão de consistências, já que lhes chamas mamas atrás e realmente é mais bonito]

- Não tenho mamilo.

- Tenho três mamilos. (Riu-se? Muitas mães dizem muito sérias que “não tenho mamilo”, e lhes asseguro que mais facilmente se tem três mamilos que nenhum.)

Preocupada com qualquer um destes sintomas, a mãe decide fazer algo para ter mais leite. Se decide fazer algo inútil mas inofensivo, como comer amêndoas ou acender uma vela para o Santo António, provavelmente não vai acontecer nada de mal, e até é possível que a fé faça a mãe pensar que o leite aumentou, e todo o mundo fica feliz.

Mas às vezes a mãe tente fazer algo que funciona, ou que pode funcionar.

E, nestes casos, o conselho de pessoas que sabem alguma coisa sobre a amamentação pode ser ainda mais desastroso do que o daqueles que não sabem nada.

A história de Elena mostra-nos o quanto pode ser profunda a angústia a que se pode chegar nos primeiros meses quando se combina os infelizes dez minutos, o maldito peso e uns conselhos aparentemente razoáveis, mas totalmente inadequados visto que não havia nenhum problema para resolver:

“O meu filho de três meses e dez dias pesa apenas 4,640kg, nasceu com 3,210kg e baixou nos primeiros três dias até aos 2,760kg. O problema principal é que nunca quer mamar. Primeiro dava-lhe a mama a cada três horas, mas mamava sempre muito pouco; depois o pediatra aconselhou a cada duas horas e, como a situação não mudou, me aconselharam a pô-lo ao peito a qualquer momento. A situação não melhorou em nada e descontrolou-se; apenas mama bem e tranquilo durante a noite, e durante o dia come apenas quando está meio adormecido. E tenho feito tudo o que me têm dito: esvaziar o peito antes de dar-lhe para que tenha leite com mais calorias, seguir uma dieta sem leite de vaca e derivados e mil coisas mais que estão a pôr-me louca e até agora não serviram de nada. Temos tentado dar-lhe biberão e também não os quer. O pediatra diz que está saudável (e já lhe fizeram análise à urina) e tudo é normal, mas esta situação é realmente difícil para mim; vivo com a angústia de pensar se na próxima mamada comerá ou não, e tenho que estar sempre à espera da altura em que adormece para pôr-lhe o mamilo na boca a ver se tenho sorte e mama alguma coisa. Nunca posso fazer nada, quase nunca posso sair de casa porque o meu filho pode ter de repente vontade de mamar, e ainda estou preocupada porque o peso do meu filho está abaixo da média.”

O peso deste menino está no percentil 7; que é o mesmo que dizer que sete em cada cem bebés saudáveis da sua idade pesam menos, 28.000 dos 400.00 que nascem a cada ano em Espanha. Como estarão as mães desses outros 28.000? É um peso perfeitamente normal.

Mas o problema grave não terá sido o peso, mas sim que “mamava sempre muito pouco”. É o mesmo que dizer (porque com o peito não se sabe quanto mamam), que mamava muito depressa. Quanto sofrimento se teria evitado se, já durante a gravidez, tivessem explicado a esta mãe que uns bebés mamam mais depressa e outros mais lentamente, e que não há que olhar para o relógio. Quanto sofrimento se teria evitado se, da primeira vez que esta mãe disse “o meu filho mama muito pouco”, alguém lhe respondesse: “Claro, é tão inteligente, que aprendeu a mamar depressa!” Em vez disso disseram-lhe que sim, que existia um problema, que estava a mamar pouco… E deram-lhe conselhos no sentido de que mamasse mais. Conselhos, naturalmente, destinados ao fracasso, porque o bebé não precisava, e portanto não podia, mamar mais.

Em apenas quatro meses, a situação já se tinha deteriorado tanto que o bebé só mamava a dormir. Um psicólogo poderia falar sobre a recusa em comer, que lhe impede de mamar desperto. Talvez nos explicasse aquilo de “o peito bom e o peito mau”. Mas não faz falta entrar em profundidades psicológicas para avisar que, se o bebé já mamou enquanto dormia, e já tomou tudo o que precisava enquanto dormia (o que era evidente, porque continuava a engordar com normalidade), seria impossível que mamasse acordado. Comeria o dobro do que precisava. Rebentaria.

Este bebé não poderá mamar acordado enquanto a sua mãe não deixar de lhe dar de mamar enquanto ele dorme. E apenas tem quatro meses, ainda faltam as sempre conflituosas papas, e a perda de apetite ao redor do primeiro ano… Se não há uma mudança radical, a situação desta família pode chegar a ser desesperante.

Como vê o bebé esta situação? É claro que ele não percebe nada. Ele não sabe sobre os dez minutos, nem sobre o percentil 7 de peso. Ele estava tão tranquilo, a mamar o que queria, e de repente começaram a acontecer coisas estranhas. Acordavam-no para dar de mamar com mais frequência… Com a sua melhor vontade tentou adaptar-se, fazendo mamadas mais curtas, claro. Às vezes, alguém lhe tirava o leite mais aguado que saia ao princípio da mamada, e desde a primeira chupadela que começava a sair o leite mais espesso, com mais gordura e mais calorias.

Logicamente, nessas mamadas terminava mais cedo. Naturalmente, não quis nem provar o biberão (pois se já tinha mamado oito vezes nessa manhã!). Dava sempre uma resposta lógica, incapaz de compreender que a sua mãe e quem a aconselhava se angustiavam cada vez mais. Desde há umas semanas que tem uns estranhos “pesadelos”: sonha que um peito lhe entra pela boca, e que o seu estômago fica cheio. E o mais estranho é que esse sono parece estranhamente real; inclusive acorda cansado, pesado, e incapaz de mamar durante o dia.

A sua mãe parece cada dia mais preocupada; muitas vezes vê-a a chorar, e ele tem medo. E se pudesse falar, sem dúvida diria o mesmo que nos disse a sua mãe: “Estão a pôr-me louco”. E se pudesse entender o que se passa, de certeza que faria um esforço para mamar mais lentamente e estar os dez minutos da regra (mas a mamar a mesma quantidade, é claro, não é de se empanturrar), para que assim todos ficassem tranquilos. Mas ele não entende o que se passa, não pode fazer esse gesto de boa vontade. Apenas a sua mãe pode fazer essa alteração; caso contrário, o problema vai continuar durante meses ou anos.

A crise dos 3 meses - Mi nino no me come

Por volta dos dois ou três meses, dizíamos, os bebés já adquiriram tanta prática que podem mamar em apenas cinco ou sete minutos, alguns até em três. Caso ninguém tenha avisado à mãe que isso iria acontecer, se a tiverem enganado com os dez minutos, ela vai pensar que o seu filho não comeu o suficiente, tal como pensou Encarna:

“Tenho uma menina de quatro meses. O meu problema é que não sei se come o suficiente, visto que está apenas três a quatro minutos em cada peito, e tenho medo que seja porque não recebe leite suficiente. Quando tinha dois meses comia uns dez minutos de um peito mais cinco do outro, e aumentava rapidamente; enquanto que agora desceu um pouco nas sua curva de crescimento.
Agora noto que os meus peitos não estão tão cheios como antes, que até pingavam.
O que me deixa preocupada é que nos primeiros minutos mama com força e rápido, e depois começa a pegar e largar o peito, não estando sossegada. Tenho de ir alternando as mamas e experimentar posições diferentes para que esteja uns dez minutos entre ambos. Pergunto se o faz porque quer mais ou não. Outra situação é que me parece e agora aguenta menos tempo de uma toma para outra, especialmente à noite, que dormia cinco a seis horas seguidas e agora três ou quatro no máximo.
O pediatra dela disse-me que eu posso começar dar-lhe leite artificial no biberão, mas eu tentei e não aceita, mesmo que seja outra pessoa a dar.”

Esta mãe explica perfeitamente todos os aspectos da “crise dos três meses”:
1. O bebé que antes mamava em dez minutos ou mais, agora acaba em cinco ou menos.
2. O peito, que antes estava inchado agora está mole.
3. O leite que pingava, já não pinga.
4. O aumento de peso está cada vez mais lento.

Tudo isso é perfeitamente normal. O inchaço do peito nas primeiras semanas tem pouco a ver com a quantidade de leite, é mais uma inflamação passageira quando as mamas começam a trabalhar. O inchaço e as pingas são “problemas de adaptação” e desaparecem quando a amamentação está comodamente estabelecida.
E o aumento de peso é cada vez mais lento, é claro. Os bebés engordam cada mês um pouco menos que no mês anterior. Por isso é que as curvas de peso são curvas, senão seriam rectas. Entre um mês e dois meses, as meninas que são amamentadas tendem a ganhar pouco mais de 400 gramas a 1,300 kg com uma média de pouco mais de 860 g (passamos por alto o primeiro mês, porque ao haver uma perda e logo uma recuperação de peso, os números são muito variáveis.
Se continuassem a aumentar ao mesmo ritmo, em um ano teriam entre 5 kg e mais de 15 kg, com uma média de 10 kg e pouco. De facto, no primeiro ano, as meninas ganham entre 4,5 kg e 6,5 kg, com uma média de 5,5kg. Ou seja, mesmo uma menina que ganhou no primeiro mês 500 g (o que para muitos pode parecer pouco, quando na realidade é normal) chegará a um momento que ainda vai ganhar menos. Os meninos tendem a ser um pouco maiores que as meninas.

Claro que a filha de Encarna não queria biberões: não tinha fome. Infelizmente nem todos os bebés mostram este orgulho, e por vezes, principalmente se insistirem muito, aceitam um biberão mesmo sem fome. Não faça o teste, só por acaso!
Se alguém tivesse explicado a Encarna o que aconteceria, não estaria nem um pouco preocupada. Mas esta mudança a apanhou de surpresa.

Mesmo que fosse surpreendida, se Encarna estivesse segura e confiante na sua capacidade de amamentar, não se teria preocupado. Porque a interpretação mais lógica e razoável para essas alterações seria: “Eu tenho tanto leite que a minha filha com três minutos tem bastante”. Mas o medo do fracasso da amamentação é tão grande na nossa sociedade que, aconteça o que acontecer, a mãe sempre pensará (ou lhe dirão) que não tem leite.

Esta mãe também revela outro mito moderno: que os bebés, com o tempo, “aprendem” a dormir cada vez mais. Na realidade, os bebés passam cada vez mais tempo despertos. É certo que algum dia dormirá mais horas seguidas: por volta dos três ou quatro anos, provavelmente dormirá a noite inteira. Mas dificilmente aos quatro meses. Entre o nascimentos e os quatro meses, a alteração que mais provavelmente observará é que o seu filho vai dormir cada vez menos.

A maioria das crianças mamam várias vezes à noite durante os primeiros anos (que é sempre mais cómodo que dar-lhe um biberão de madrugada, especialmente se o bebé dorme na nossa cama).
Esta mãe já começou a obrigar a sua filha a comer. A partir daqui, tudo é em declive. É fácil prever que, a menos que a mãe decida fazer uma mudança radical, a introdução das papas será uma luta.

Dar de mamar sem problemas - Mi nino no me come

Um conselho muito claro

Como quase todos os problemas, os conflitos com as crianças em torno da comida são mais fáceis de prevenir do que remediar. O título e o conteúdo deste livro dificilmente atrairão a atenção de casais grávidos ou de pais de crianças pequenas que comem. A maioria dos meus leitores (ou deveria dizer leitoras) são mães desesperadas porque o seu filho “não come” há alguns meses.

Mas não perca a esperança. Talvez vocês esteja grávida, ou o seu filho ainda seja pequeno, e este livro lhe tenha sido emprestado ou recomendado por uma amiga ou irmã que já passou por isso. Ou talvez você pense ter outro filho e não gostaria de passar pelo mesmo.

Esta secção contém, por isso, alguns conselhos para dar de comer ao seu filho sem que surjam conflitos.

O conselho não pode ser mais claro:
Não obrigue o seu filho a comer.
Não o obrigue nunca, por qualquer meio, sob quaisquer circunstâncias, por qualquer motivo.

Este conselho apenas ocupa três linhas, e você poderá pensar que é pouco para o que terá pago por este livro. Então vou elaborar um pouco mais, mas tudo o resto é secundário. Se em algum momento se perder nos meus devaneios e precisar voltar ao essencial, volte a este conselho.

Confie no seu filho

Vamos ao princípio. Após nove meses de espera, finalmente tem o seu filho nos seus braços. Não se mexa! Apesar dos esforços de alguns para tentar convencê-la do contrário, nos seus braços é onde está melhor.

Para evitar conflitos, desde o início, o melhor é confiar no seu filho. O seu filho é que sabe quando tem fome, não o relógio. A maioria dos bebés mama entre oito a doze vezes por dia, em mamadas irregularmente distribuídas. Normalmente demoram em cada peito 15 a 20 minutos nas primeiras semanas, enquanto aprendem, mas por volta dos dois a quatro meses, normalmente alimentam-se muito rapidamente, em 5-7 minutos ou menos. Isto é o que faz a maioria, mas sempre há algum que bate recordes, por muito ou por pouco. Se lhe der o peito quando ele pede, e o deixar mamar o tempo que quiser, o seu filho terá sempre o leite que precisa.

O peito dá-se à demanda

Noutro capítulo já expliquei porquê. Relembro que os bebés dificilmente mamam com horário regular, porque é precisamente a variação de horário que lhes permite alterar a composição do leite para o adaptar às suas necessidades.

Diz-se que a nossa civilização tem medo da liberdade, e talvez seja por isso que muitas pessoas simplesmente não aceitam isto da amamentação à demanda, e tenta colocar limites. E o triste é que às vezes os limites são colocados com tanta subtileza que parece que dizem o mesmo, mas não é o mesmo. Como exemplo, os seguintes erros típicos:

- Dê o peito à demanda, ou seja, não antes de duas horas e meia e não mais de quatro.
Isso não é à demanda. Esse é um horário flexível e melhor que nada, mas não é à demanda. Porque não pode mamar antes das duas horas e meia? Nunca lhe aconteceu ter acabado de comer, e encontra uma amiga na rua e entram em algum lugar para beber um café? Ou você diz à sua amiga: “Bebe o teu café, se quiseres, eu faço-te companhia, mas é que só passou meia hora desde que comi, e não posso comer antes das cinco”?

- Nas primeiras semanas é recomendado amamentar em livre demanda, mas depois o seu filho vai ter a sua própria rotina.
Nem todas as crianças têm uma rotina. E entre aqueles que têm, muito poucos seguem a marcha militar que a frase sugere (a cada duas horas, a cada três, ou quatro). É mais provável que o ritmo escolhido seja o cha-cha-cha: várias mamadas muito seguidas, outras mais separadas, uma pausa mais longa…
A rotina da amamentação manifesta-se, quando existe, de um dia para o outro: se a Laura costuma mamar muito frequentemente de manhã e dorme uma boa sesta à tarde, é provável que amanhã volte a fazer o mesmo. Mas também poderá surpreendê-la, e isso é o agradável de se ter filhos. São pessoas e não robôs.

- Tente ir espaçando entre mamada e mamada
Isto tão pouco é à demanda. Porque é que essas pessoas estão tão obcecadas em ir espaçando as mamadas? Se o seu filho quer mamar, e se você lhe quer dar mama, porque é que hão-de querer controlá-la? Também se deveria espaçar entre beijo e beijo? Gostaria você que lhe fossem espaçando de Domingo a Domingo, ou entre dia de pagamento e dia de pagamento, ou entre férias e férias? Os empregadores ficariam muito felizes com um Domingo a cada dez dias, pagar o ordenado a cada 43 dias e dar um mês de férias a cada ano e meio, mas nunca lho iriam propor. Pois bem, o seu filho iria responder com a mesma indignação se pudesse falar, e se apercebesse que alguém quer espaçar as mamadas.

Rejeição da mama

"Quando um bebé rejeita a mama é fundamental procurar conhecer as razões. Normalmente é o suficiente para se poder planear uma intervenção adequada. Entre os principais motivos de rejeição estão:

Falsa rejeição:
- Não tem fome e não necessita mamar. (uma causa frequente em que raramente se pensa);
- Mama muito depressa. À medida que adquirem experiência, os bebés mama mais depressa. Aos três meses alguns apenas precisam de dois ou três minutos, ou mesmo menos, numa mama;
- Reflexo de busca: o recém-nascido move a cabeça de um lado para o outro quando procura o mamilo. Algumas mães podem interpretar esse movimento com um gesto de negação;
- Alguém toca na cabeça do bebé para o pôr a mamar. Se um dedo lhe toca a face, o bebé procurará esse dedo de forma reflexa;
- Alguém empurra a nuca do recém-nascido: o que produz um movimento reflexo de extensão cervical;
- Desmame espontâneo: mais cedo ou mais tarde, todas as crianças se negam a continuar a mamar. Normalmente, fazem-no de forma paulatina, depois dos dois anos. Se o bebé tem menos de um ano, é quase impossível que se trate de desmame.


Dor ou doença da criança:
- Fractura da clavícula, vacina recente - procurar a posição em que não se pressione a zona dorida;
- Obstrucção nasal por secreções. Às vezes há que desobstruir o nariz antes de dar de mamar. Instilar soro fisiológico, gota a gota (não de jorro)., nas fossas nassais do bebé quando este está deitado com a boca para cima constitui habitualmente um método eficaz. As secreções secam, amolecem e em poucos minutos a criança espirrará e explusará as secreções;
- Dor ao engolir: otite, faringite;
- Está nervoso, zangado, ou está a chorar há algum tempo - tranquilizá-lo e voltar a oferecer a mama;
- Experiência anterior desagradável (deram-lhe uma injecção enquanto mamava; a mãe zangou-se muito com uma pequena dentada...);
- Hipotonia (hipotonia neonatal transitória, parto com anestesia, sindrome de Down...)
- Alergia a algo que a mãe ingeriu (frequentemente leite de vaca) "chega-lhe o leite ao estômago, e começa a chorar".


Problemas de Técnica:
- Confusão entre mamilo e tetina;
- Má pega: a falta de sucção eficaz é compensada com um excesso de ocitocina; o leite sai a jorro e o bebé engasga-se;
- Pele escorregadia devido aos cremes aplicados no mamilo;
- Mama muito ingurjitada - esvaziar um pouco antes de oferecer a mama.


Alteração que incomoda a criança:
- Aversão oral, devida a experiências desagradáveis no período neonatal (entubação oro-gástrica ou orotraqueal, aspiração, tetinas, exploração da boca com um dedo..);
- Separação, a mãe começou a trabalhar. Quando a mãe regressa, a criança pode reagir "agarrando-se" a ela ou rejeitando-a, ou alternando ambas as condutas. É preciso assegurar à mãe que esta reacção é normal e que o bebé precisará de muitos mimos para a superar;
- Problemas familiares, mudança de domicílio, visitas;
- Menstruação, nova gravidez (diz-se que o sabor do leite muda);
- Mau sabor do leite causado por algum alimento ou medicamento (é raro, e depende de cada criança);
- Odor (sabão, água-de-colónia, desodorizante da mãe);
- Sabor salgado da pele se a mãe esteve a suar;
- Ruídos externos. A criança pode assustar-se com ruídos bruscos ou fortes. As crianças mais velhas distraem-se facilmente com qualquer som ou movimento e, algumas só mama bem se estiverem sozinhas com a mãe num local tranquilo.


Possíveis causas de rejeição unilateral:
Referimo-nos à criança que procura sempre a mesma mama em cada mamada, por exemplo a direita, sem nunca mamar da esquerda. É importante não confundir com a criança que mama numa só mama de cada vez (o que é absolutamente normal), mas que vai alternando as mamas.
- Dor unilateral (fractura da clavícula, vacina, otite);
- Mastite (aumenta o sódio no leite da mama infectada);
- Um mamilo muito mais pequeno ou maior que o outro;
- Pior posição num lado (conforme a mãe seja dextra ou esquerdina);
- Gêmeos: às vezes cada um tem uma mama favorita;

(o livro tem mais informação sobre este tema, se quiserem saber mais, enviem mail para o mamaraopeito@hotmail.com)


Atitude perante a rejeição
- Procurar a possível causa e quase sempre ocorrer-nos-á a solução
- Nunca esquecer a principal causa de "rejeição": a criança não quer mamar mais porque já mamou bastante;
- Muita paciência, contacto físico e carinho;
- Testar posições diferentes;
- Oferecer a mama com frequência, mas sem impor;
- Extrair leite e dá-lo com um copo ou à colher, se necessário;
- Não tentar vencer a criança pela fome. Quando tiver muita fome, provavelmente mamará ainda pior. É preferível dar-lhe primeiro o leite com um copo e oferecer a mama quando não tiver muita fome nem estiver zangado;
- Não tentar dar-lhe de mamar à força, abrir-lhe a boca, empurrá-lo... Normalmente é contraproducente. A mãe e a criança acabam a chorar e a experiência desagradável contribui para manter a rejeição;
- Contacto pele-a-pele: depois de lhe ter dado o leite com um copo, a mãe, despida da cintura para cima, deita-se na cama com o seu filho, vestido apenas com uma fralda. Coloca-se sobre o seu corpo, como a um recém-nascido na sala de partos e, permite que a criança faça o que pretender. Muitos mamam espontaneamente ao fim de meia ou uma hora e, assim mãe e filho passaram algum tempo a descansar e não angustiados pelos esforços inúteis para o bebé mamar."

Fonte: Manual Prático do Aleitamento Materno págs 93-97 - Dr. Carlos Gonzalez

CALENDÁRIO 2011 - Já estamos a aceitar encomendas!!!


Lançamos mais uma vez o Calendário Mamar ao Peito...


Na edição de 2011 o tema central é "Amamentar em qualquer lugar", e queremos transmitir a imagem que a amamentação, sendo um acto natural, pode acontecer em qualquer lado...


Características:
- Tamanho A4
- Argolas metálicas com suspensão no topo
- 14 Páginas em folha couche silk 170gr


Não deixe de ajudar um projecto que tem como finalidade apoiar a mãe e bebé no processo da amamentação.


O valor das vendas reverte a favor de novos projectos cujo objectivo será sempre: Promover, Proteger e Apoiar o Aleitamento Materno... Encomendem e Divulguem!!
Os calendários começam a ser enviados a partir do dia 15 Setembro...



Não deixe de fazer já a sua encomenda, para seguir nos primeiros envios...


Encomendar o calendário!!!



BABS&APPM

A Culpa - Un regalo para toda la vida

O primeiro texto que decidi traduzir e colocar neste blogue é um texto sobre o sentimento de culpa que a maioria das mães tem, e não deveria ter... A primeira vez que li este texto senti que alguém tinha escrito num livro, algo que eu já tinha pensado tantas vezes e não sabia bem como descrever…

O texto chama-se A Culpa e é do livro "Un regalo para toda la vida", do pediatra Carlos Gonzalez:
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Quando eu era um médico jovem e inexperiente (agora sou de média idade e inexperiente) e comecei a interessar-me por isto da amamentação, surpreendeu-me a reacção de muitos dos meus professores, chefes e companheiros: cuidado, para que as mães não se sintam culpadas. Tinha de dizer coisas como: “o aleitamento materno é o melhor, mas o artificial é igualmente bom” ou “se não conseguiu amamentar, não se preocupe, hoje em dias as crianças criam-se igualmente bem com o biberão”. Eu mesmo cheguei a escrever, num rascunho de um folheto que nunca viu a luz do dia, algo do género “mais vale um biberão com amor, do que uma mama com ressentimentos”.

Os médicos não costumam mostrar tanta delicadeza noutros casos. O tabaco provoca cancro, assim, com todas as letras, e se o fumador se sentir culpado, pois que se sinta. E não é só porque muitos médicos deram biberão aos seus próprios filhos; os médicos fumadores não têm problemas em dizer que o tabaco provoca cancro.

Quando se recomenda o aleitamento materno, parece obrigatório ter uma segunda opção. Um folheto recentemente distribuído em Espanha para prevenir a morte súbita do lactente incluía conselhos como: “Coloque o bebé de barriga para cima”, “Não permita que fumem no seu ambiente”, e “Se puder, dê-lhe de mamar”. Porque é que apenas a amamentação é opcional? Porque que não “Se puder, coloque o bebé de barriga para cima” ou “Tente que não fumem no seu ambiente”? Ou, noutro extremo, que tal “Não permita que o bebé tome biberão”?
O facto é que as mulheres em geral tendem a sentir-se culpadas de muitas coisas, pelo menos na nossa cultura. Não sei se é algo genético ou puramente cultural (ou seja, se são realmente assim, ou se somos nós que as ensinamos a ser assim desde pequenas) mas é verdade. Uma perita em amamentação, Diane Wiessinger, explica que expôs o mesmo caso a várias pessoas: “Você é um passageiro/a num avião e o piloto tem um enfarte. Fez apenas uma aula de voo: tenta aterrar e tem um acidente, sentir-se-ia culpado/a?” Os homens costumam responder “Culpado? Claro que não! Pilotar um avião é algo muito difícil, eu fiz o que me foi possível…” As mulheres, pelo contrário, tendem a responder que sim, que deveriam ter estado mais atentas na primeira aula, que o avião se despenhou por sua causa… Uma inclusive sentia-se culpada por sentir-se culpada: “Bom, eu sei que não deveria sentir-me culpada, mas penso que sim, que me sentiria culpada”.

Quando a mulher se torna mãe, parece que o sentido de culpa aumenta, e não é apenas em relação à amamentação. Respondo a questões de mães numa revista, e muitas das cartas são sobre culpa. Muitas mães sentem-se culpadas, não por coisas que aconteceram, mas por coisas que poderiam ter acontecido. E não é só por coisas graves, como “por minha culpa, o meu filho quase morria”, mas também por coisas que para outras pessoas não teriam qualquer importância. Marta, por exemplo, sente-se culpada porque a sua filha não come carne:
“Tenho a estranha sensação de culpa ao pensar que ao privá-la da introdução de carne estou a expor a minha filha a uma anemia”
Segundo o provérbio, quem faz o que pode, diz o que sabe e dá o que tem, a mais não é obrigado. Mas o sentimento de culpa não entende essa lógica. Beatriz sente-se culpada de ter sido mal informada (em vez de culpar quem a informou mal):
“Sou uma mãe de uma menina de um mês, que alimento ao peito e com biberão, por falta de informação correcta a tempo (mea culpa).”
Pode alguém sofrer uma desgraça imprevisível e, em vez de sentir-se vítima, sentir-se culpada? As mães sim. Ivone sente-se culpada por ter uma depressão:
“Acho que não dei à menina a tranquilidade e a alegria que todos precisamos, e sobretudo um bebé recém-nascido, sinto-me culpada e não sei se isto poderá afectar a personalidade, o sistema nervoso ou o desenvolvimento dela.”
Também é verdade que os sentimentos injustificados de culpa constituem um dos sintomas de depressão. A verdadeira depressão pós-parto é relativamente rara; mas muitas mães sofrem uma depressão leve, a que se chama a tristeza pós-parto (baby blues).
As mães conseguem sentir-se culpadas pelo que fazem mal, mas também pelo que não fazem, pelo que fazem outras pessoas, e inclusive pelo que fazem bem. Júlia recebeu tantas críticas por pegar o seu filho ao colo e estragá-lo…
“… que inclusive me chegaram a fazer sentir culpada por querê-lo tanto.”

Se se sentem culpadas por quase tudo, a quem surpreende que se sintam culpadas por não dar de mamar? Laura chegou a sentir-se culpada porque sim, dava de mamar:
“Não seria melhor parar de amamentar, com muita tristeza minha, porque a menina está a alimentar-se dos meus nervos, depressões, etc. e não a estou a favorecer em nada com o meu leite?”
Isabel, porque dá de mamar sempre que quer, apesar de o seu pediatra lhe ter dito para dar de mamar apenas duas vezes por dia:
“O problema é que me sinto um pouco culpada por desobedecer ao meu pediatra.”
Montse, que mete o filho na sua cama quando este chora durante a noite, congratula-se por ter lido o meu livro Besame Mucho:
“Depois de ler o seu livro, sinto-me menos culpada” (maldita palavra!)
Mas não me atribuo nenhum mérito; sei de outras mães, que tinham deixado chorar o seu primeiro filho, e se sentiram culpadas ao ler o meu livro…

Por que é que todo o mundo tenta proteger-nos de certas culpas, mas não de outras? O mesmo pediatra que jamais diria: “Se não lhe der de mamar, faltarão imunoglobulinas ao seu bebé” (que está absolutamente correcto), não tem qualquer problema em dizer: “Se não lhe der carne, faltará ferro ao seu filho” (que só está correcto às vezes), ou inclusive: “Se não lhe der fruta, faltará vitamina C ao seu filho” (que é completamente falso). Se numa reunião familiar você diz: “Sinto-me culpada por levá-lo para o colégio tão cedo”, quase todos a tentarão tranquilizar: “Não te preocupes, eles ficam muito bem no colégio”. Por outro lado, se tiver a ousadia de dizer: “Sinto-me culpada porque dorme connosco, na nossa cama.”, quantas pessoas lhe diriam: “Não te preocupes, eles ficam muito bem na cama dos pais”?
Algumas mães que dão o biberão sentem-se mal ao ler numa revista um artigo que fale sobre a vantagem do aleitamento materno; mas ao menos esses artigos estão escritos de forma impessoal, e se não quiser, basta não os ler. Por outro lado, uma mãe que dá de mamar durante dois anos tem muitas probabilidades de ouvir comentários negativos e pessoais, às vezes decididamente hostis e insultuosos, dos lábios de familiares, amigos e profissionais.
É claro que não estou a dizer que os adeptos da amamentação são mais amáveis e respeitosos. O que acontece é que dar o biberão ou deixar o bebé a chorar, nos dias de hoje, são as correntes maioritárias da nossa sociedade. Dar de mamar mais de um ano ou dormir com o bebé consideram-se extravagâncias de gente rara. Algumas pessoas são amáveis e respeitosas por natureza, respeitam tanto a maioria como a minoria, os que pensam de forma igual como os que pensam de forma distinta. Mas há muitos outros que não são respeitosos, apenas o fingem. São humildes perante o poderoso, mas arrogantes perante o débil. Estão acobardados quando se sentem em minoria, mas ficam valentes quando se sentem suportados por um grupo. Dentro de algumas décadas, se o aleitamento materno for aumentando, talvez as mães que não dão de mamar comecem a receber críticas directas. Espero que você, amiga leitora, não participe nisso.

Suspeito que às vezes, com os nossos esforços para que as mães não se sintam culpadas, conseguimos o contrário. Imagine, por exemplo, que sofre um acidente de automóvel e a sua filha de três anos parte um braço. Qual dos seguintes comentário lhe faria sentir mais culpada:
a) “Um braço partido? Coitadita! Espero que fique bem rapidamente.”
b) “Não tens de te sentir culpada. Eu também ando muitas vezes de carro com o meu filho sem cadeira de segurança. Vais ver que não vai ter problemas; digam o que disserem, hoje em dia partir um braço não é nada de grave. E as crianças adoram usar gesso.”

A questão é que a mãe que desejava dar de mamar e, seja porque motivo for, não o fez, não pode sentir-se bem. Não é lógico sentir-se culpada, quando foi precisamente vítima de falta de informação, de falta de ajuda ou simplesmente de má sorte. Mas também não é lógico sentir-se bem, quando deseja algo e não consegue. Sentimo-nos mal quando chumbamos num exame, se nos passam uma multa, ou se simplesmente chove no nosso dia de ir à praia. E dar de mamar é algo muito mais importante; é algo muito especial que a mãe queria fazer pelo seu filho porque pensava que seria o melhor para ele, e também é uma parte do seu ciclo sexual, uma parte da sua vida.

Para muitas mulheres, o fim da amamentação representa quase um processo de dor, parecido (embora naturalmente mais leve) com a dor provocada pela morte de um ente querido. Já vi mães que se sentem mal quando o seu filho se desmama com um ano e meio ou aos quatro anos; mães que sentem que perderam algo importante que já não voltará. Mesmo que fosse um desmame esperado, aceite, e inclusive procurado e induzido, sentem-se mal. Como não se vai sentir mal aquela que desmama nas primeiras semana, contra sua vontade, após muitos esforços e muitos sofrimentos?
Infelizmente, a nossa sociedade normalmente não compreende este mal-estar. Com a melhor das intenções insistem em negá-lo, eliminá-lo, apagá-lo. Creio que é um erro. Imagine que você fica surda, e que os médicos e amigos empenham-se em negar a sua dor: “Não te preocupes, hoje em dia há muitos aparelhos auditivos avançados”: “Bem, pelo menos agora estás tranquila, porque já sabes o que se passa contigo.” “Uma tia minha também ficou surda, e dizia que estava melhor que antes, porque tinha paz interior.” “Em geral, para que é que precisas ouvir…” “Não sei porque te esforças tanto; quando não se ouve, não se ouve, e há que aceitá-lo.” Não lhe daria raiva?
À tristeza de não poder dar de mamar, muitas mães têm de somar a tristeza de sentirem-se incompreendidas. Em vez de tanto consolo falso, precisam ouvir um comentário sensato e compreensivo: “Tinhas muita vontade de dar de mamar, não era? Que pena, como lamento…”.

Fonte: WIESSINGER D. Watch your language! J Hum Lact 1996; 12: 1-4
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Espero que tenham gostado do texto e que vos faça pensar...
Assim que possível traduzirei mais algum.


Jocas

Excertos de livros de amamentação!

Olá, mamãs e companhia!

Sei que o blog tem estado paradito, mas desde que abrimos o site, este tem-nos tomado algum tempo... E os mails que vamos recebendo das mamãs (e papás também) com dúvidas também têm prioridade...

Sou uma pessoa que gosta muito de ler, e ultimamente os livros que tenho lido são ou sobre gravidez e parto, ou sobre amamentação! E tenho lido não só em português, mas também em inglês e espanhol! Há realmente livros muito bons!

Os últimos que li foram:
- Inna May's Guide to Childbirth - de Inna May
- Birth reborn - de Michel Odent
- Besame mucho, Mi nino no me come , Um regalo para toda la vida - todos de Carlos González

E ainda tenho muitos mais para ler! O que pretendo começar a fazer é traduzir alguns excertos, sobre amamentação, que ache que serão interessantes para partilhar!

Estes dois últimos livros do Dr. Carlos Gonzalez deveriam ser traduzidos e, juntamente com o Besame mucho, deveriam ser distribuídos às grávidas, são fantásticos!

Vou tentar traduzir um por mês, pelo menos, mas não prometo nada...
Também aceito sugestões de livros ou excertos que queiram partilha!


Jocas

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